Santo Amaro da Imperatriz, na Grande Florianópolis, A primeira estancia hidromineral do Brasil também carrega segundo lugar no ranking
A abundancia de água garantiu a existência de Santo Amaro da Imperatriz. As fontes termais descobertas por caçadores a mais de 200 anos, alem de despertar o interesse pelo governo imperial na região, as colocaram no segundo lugar do ranking mundial de qualidade atraindo turistas para os rios e cachoeiras, gerando fama internacional e impulsionando a economia de uma cidade movida a água.
A água que brota em Santo Amaro da Imperatriz recebe a influência das camadas subterrâneas de minerais, e especialistas acreditam que a alta temperatura e a radioatividade garantam muitos benefícios a saúde.
Quando os portugueses descobriram isso, os índios já aproveitavam as fontes quentes há tempo e não gostaram nada de ver as terras invadidas. O resultado foi uma batalha que perdurou por mais de um ano, resultando na morte de centenas de soldados e de nativos. Cinco anos mais tarde, em 1818, os portugueses haviam vencido a guerra e Dom João VI determinou a criação da primeira estância hidromineral do Brasil.
Com o passar das décadas, foram erguidos o Hospital Caldas (que virou o Hotel Caldas da Imperatriz na década de 1920), a fábrica de água mineral Imperatriz, um banho público aberto à comunidade, um aqueduto e toda uma estrutura voltada ao turismo, que inclui até mesmo torneiras para as pessoas encherem garrafas com água recém-tirada da fonte.
Um pouco à frente do Hotel Caldas, um parque aquático recebe os turistas. Além disso, Santo Amaro da Imperatriz se tornou não apenas um dos polos brasileiros de água mineral, mas também um lugar frequentado por amantes do rafting e das cachoeiras.
Para receber o imperador Dom Pedro II e a imperatriz Teresa Cristina por um único dia, em outubro de 1845, o então Hospital Caldas teve que ser repensado por inteiro. Foi aumentado o número de quartos, o prédio foi ampliado, diversas mobílias foram levadas do Rio de Janeiro a Santo Amaro da Imperatriz e parte da estrutura teve de ser refeita para facilitar o acesso do casal imperial às banheiras quentes.
A hospedagem foi tão calorosa que os relatos da época mostram a visita como um dos pontos altos da viagem que Dom Pedro II fez às províncias do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Era a primeira vez que o jovem governante deixava a sede do poder, no Rio de Janeiro, sob o pretexto de concretizar o acordo de paz com o líder dos Farrapos no Sul do país. Quando deixou o local, dizem os relatos da época, Dom Pedro II chorou e prometeu fazer o possível para voltar – embora nunca o tenha feito.
Para o historiador e professor José Carlos Petri, a parada do imperador na localidade se justificou pela necessidade de fixar o poderio imperial na tão cobiçada região. Trinta anos após a batalha entre portugueses e indígenas, o governo achou válido prestar uma homenagem aos soldados mortos (acredita-se que sejam mais de mil) com uma placa pregada na parede do hospital: “À memória dos milicianos d’el-rey de Portugal aqui mortos pelos selvícolas em 30 de outubro de 1814, quando em guarda a estas já afamadas thermas”.
A recepção que hoje seria vista como extravagante, na época foi motivo de orgulho. Após a partida do casal, foi adicionado um décimo-terceiro quarto, apelidado de Quarto Imperial, para o caso de uma segunda visita (que nunca aconteceu). A imperatriz também se sentiu tocada pelas águas e tornou-se mecenas do hospital, enviando seis banheiras de mármore, que estão no Caldas até hoje.
Esperança para os escravos
Após quatro anos de pesquisas, o historiador José Carlos Petri afirma que a região de Santo Amaro da Imperatriz chegou a ter a segunda maior concentração de escravos da Grande Florianópolis quando era um distrito de São José, atrás apenas da Capital.
O historiador explica que os escravos renovavam as esperanças ao serem transferidos para o local, já que a mata fechada e o complexo de montanhas facilitaria os esconderijos.
No subsolo do hotel Caldas, ainda é conservada a antiga prisão onde eram mantidos os fugitivos ou infratores. No cômodo de dois metros de altura, não há janela nem muito espaço para circular. As paredes maciças de meio metro de espessura agravam a sensação de claustrofobia, mas o local que serviu de cárcere a gerações de escravos hoje serve para um propósito bem menos constrangedor: virou um almoxarifado.
Fonte: http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias